A versatilidade do girassol para o agro 

O girassol volta a ganhar destaque no agronegócio brasileiro, impulsionado por sua capacidade de adaptação, curto ciclo produtivo e múltiplas aplicações industriais.  

Em uma época de busca incessante por culturas resilientes e sustentáveis, o cultivo da oleaginosa surge como uma alternativa promissora para diversificar a renda do produtor rural e fortalecer a matriz agro energética do país.  

Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2024/25 abrange 61,9 mil hectares e deve alcançar 104,4 mil toneladas de grãos, com produtividade média de 1.622 kg/ha. 

Fonte: Envato

Cultura com potencial de expansão em semiárido 

Além dos números expressivos, especialistas afirmam que o girassol pode expandir-se rapidamente no território nacional. A engenheira agrônoma Ana Scavone, líder de Desenvolvimento de Novos Negócios da Advanta Seeds, destaca que o potencial da cultura é subaproveitado no Brasil. “Na Argentina, o girassol ocupa cerca de dois milhões de hectares, enquanto aqui ainda estamos engatinhando. É uma planta com excelente adaptabilidade às condições tropicais e com alto valor de mercado”, avalia. 

O girassol se diferencia por sua alta tolerância à seca, fator crucial em tempos de instabilidade climática.  

De acordo com a Embrapa Agroenergia, a cultura necessita em média de 250 milímetros de chuva bem distribuída durante o ciclo, contra 600 milímetros exigidos pelo milho. Essa característica amplia o potencial de cultivo em regiões com menor regularidade de precipitação, como áreas do Cerrado mineiro, goiano e mato-grossense. 

Outro ponto estratégico é o ciclo curto, que varia de 90 a 120 dias. Essa rapidez possibilita o uso inteligente da terra, permitindo ao produtor aproveitar o período entre as safras principais de soja e milho.  

Além de agregar rentabilidade, a rotação com o girassol melhora o perfil do solo, contribui para o controle de pragas e reduz a pressão de doenças, garantindo sustentabilidade ao sistema produtivo. 

“Quando o agricultor insere o girassol entre safras, ele não só mantém o solo ativo como ainda colhe benefícios diretos na safra seguinte. É uma cultura que favorece a biologia do solo e o manejo integrado”, explica Ana Scavone.  

A Embrapa reforça que, em experimentos realizados no Centro-Oeste, áreas cultivadas com girassol apresentaram aumento médio de 12% na produtividade da soja subsequente, devido à melhoria da estrutura e à incorporação de matéria orgânica. 

Do ponto de vista econômico, o girassol se destaca pelo valor agregado de seus derivados. O óleo extraído das sementes é considerado um dos mais saudáveis do mercado, por ser rico em ácidos graxos insaturados e vitamina E.  

Fonte: Envato

No Brasil, o consumo de óleo de girassol cresce em média 7% ao ano, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove). Além da alimentação humana, o produto é amplamente utilizado nos segmentos de cosméticos, farmacêuticos e, mais recentemente, de biocombustíveis. 

O farelo de girassol, subproduto da extração do óleo, também tem importância estratégica. Com teor proteico de 28 a 32%, é uma alternativa viável ao farelo de soja em rações de bovinos, aves e suínos. O avanço dessa cadeia agrega valor à produção nacional e reduz a dependência de insumos importados, especialmente no segmento de nutrição animal. 

Segundo a Conab, a crescente demanda industrial tende a pressionar o aumento de área plantada já a partir de 2026. Estados como Mato Grosso, Minas Gerais e Bahia devem liderar essa expansão.  

A adaptação ao clima tropical, aliada ao bom desempenho em solos de média fertilidade, torna o girassol uma excelente opção para pequenas e médias propriedades, inclusive em áreas que seriam deixadas em pousio (prática de interrupção temporária, limitada a cinco anos, de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais para possibilitar a recuperação da capacidade de uso ou da estrutura física do solo). 

A cadeia produtiva, contudo, depende da oferta de sementes melhoradas e de suporte técnico especializado.  

Nesse contexto, empresas de genética agrícola, como a Advanta Seeds, vêm investindo fortemente em pesquisa. “Em 2024, introduzimos no Brasil híbridos desenvolvidos na Argentina e na Europa. Os resultados foram excelentes, com boa adaptação e produtividade estável”, relata Ana Scavone. 

Produtivo, belo e resistente 

O avanço do girassol também dialoga com a agenda de sustentabilidade. Por demandar menos água e insumos, o cultivo apresenta menor pegada de carbono e contribui para a recuperação de áreas degradadas. Estudos da Embrapa Soja apontam que o girassol tem potencial para fixar entre 1,5 e 2,0 toneladas de carbono por hectare, além de melhorar a infiltração de água e reduzir a erosão superficial. 

Outro fator relevante é o papel da cultura na matriz energética renovável. O óleo de girassol é reconhecido pela sua alta eficiência na produção de biodiesel, apresentando rendimento de até 1.000 litros por hectare cultivado. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o biodiesel à base de óleo de girassol representa cerca de 4% da produção total brasileira, mas esse percentual pode triplicar até 2030 com incentivos adequados. 

A indústria de biocombustíveis já demonstra interesse. Usinas do Centro-Oeste e do Sul do país têm firmado contratos de compra antecipada com cooperativas agrícolas, garantindo previsibilidade de preço ao produtor. Além disso, o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) prevê políticas de fomento específicas para oleaginosas de menor escala, como o girassol, integrando agricultores familiares à cadeia. 

Fonte: Envato

Mesmo com tantos atributos embutidos, o desenvolvimento da cultura ainda depende de políticas públicas e de maior integração entre pesquisa e campo. A logística de esmagamento e processamento ainda é concentrada nas regiões Sul e Sudeste, o que eleva custos para produtores do Cerrado e do Nordeste. A criação de polos regionais de beneficiamento e o estímulo a cooperativas podem reduzir essa distância e ampliar a competitividade. 

De modo geral, o girassol se encaixa perfeitamente na lógica de intensificação sustentável da agricultura. Seu cultivo contribui para diversificar o sistema produtivo, gera renda adicional e responde a uma demanda crescente por produtos de origem vegetal. Mais do que uma alternativa de entressafra, a oleaginosa se consolida como um pilar de resiliência diante das mudanças climáticas e dos desafios da agroenergia. 

Da redação Lonax Play.
Lincoln Gomide, Jornalista Responsável.
Com revisão da equipe de Comunicação da Lonax.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O que está procurando?