O agronegócio brasileiro — responsável por cerca de 25% do PIB nacional e mais de 40% das exportações do país — vive um momento de contrastes.
De um lado, a produção de grãos deve ultrapassar 320 milhões de toneladas em 2025, segundo o Ministério da Agricultura, um marco histórico para o setor.
De outro, persistem desafios como juros elevados, barreiras comerciais internacionais e custos crescentes de insumos.

A resposta via Agricultura 4.0
Nesse cenário de altos e baixos, tecnologia e inovação se consolidam não apenas como soluções, mas como estratégias essenciais de competitividade.
Sensores, drones, inteligência artificial e Internet das Coisas (IoT) já integram dados meteorológicos, mapas de solo e imagens aéreas, permitindo otimização do uso de insumos, redução de impactos ambientais e aumento da produtividade.
Um estudo da McKinsey aponta que, até 2030, a automação e o uso de drones poderão elevar em até 25% a produtividade das lavouras brasileiras, compensando parte dos efeitos negativos do crédito caro e das barreiras comerciais externas.
Tecnologia de ponta pelos ares
Um exemplo prático dessa revolução vem de Cláudio Júnior Oliveira, economista, administrador, mestre em Inovação e doutor em Administração. Diretor do SINDAG (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola), ele representa um setor responsável por aplicações aéreas de defensivos, semeadura, combate a incêndios, pulverização de florestas comerciais e controle de vetores.

“As aeronaves reduzem custos, aumentam a segurança no trabalho e elevam os padrões de sustentabilidade, permitindo aos produtores enfrentarem desafios financeiros com maior resiliência”, afirma Cláudio.
Ele acrescenta que a introdução de drones junto a aviões e helicópteros no campo traz ganhos ambientais expressivos, com precisão na aplicação de fertilizantes, defensivos e irrigação, contribuindo para uma produção ecologicamente correta e sustentável.
As ameaças do cenário econômico
A taxa Selic elevada encarece o crédito rural e limita investimentos em maquinário e inovação.
Além disso, tarifas internacionais e incertezas logísticas comprimem margens e exigem planejamento financeiro e operacional mais sofisticado.
“O produtor precisa estar cada vez mais preparado para gerir riscos financeiros e operacionais com dados, tecnologia e alianças estratégicas — além de manter robusta liquidez”, destaca Cláudio.
Além de executivo, ele é autor e palestrante, reunindo em seu Linktree livros e cursos sobre criatividade, inovação e gestão do tempo — com o propósito de formar líderes aptos a atuar em ambientes corporativos e rurais complexos.
Modernização como divisor de águas
O agronegócio brasileiro está diante de um divisor de águas: ou se moderniza rapidamente ou perde espaço para concorrentes globais.
Iniciativas que unem economia, tecnologia e inovação são fundamentais para garantir competitividade, sustentabilidade e geração de renda no campo.
O futuro aponta para drones autônomos, big data agrícola e automação em larga escala.
A expectativa é que essas tecnologias se tornem cada vez mais acessíveis e integradas a diferentes cultivos, gerando ganhos em escala e maior eficiência produtiva.

Lonax Play – Como sua origem na Grande Porto Alegre e sua trajetória acadêmica moldaram sua visão sobre economia e inovação no agronegócio?
Cláudio – Venho de uma família trabalhadora do Vale do Sinos e cresci vendo a força do interior gaúcho. Isso me deu senso de realidade e respeito por quem produz. Na academia, percorri Economia, Administração, Marketing, Mestrado em Inovação, Doutorado em Administração e hoje faço pós-doc em Florestas e Descarbonização na UnB. Essa trajetória me ensinou a unir campo, indústria e pesquisa.
No agro, isso significa olhar números, pessoas e tecnologia ao mesmo tempo. Defendo a inovação com propósito: eficiência, segurança alimentar e sustentabilidade caminhando juntas.
Lonax Play – Quais os impactos mais imediatos da taxa Selic elevada?
Cláudio – A Selic alta encarece o crédito, desestimula o consumo e dificulta investimentos — desde a compra de maquinário até a aquisição de drones ou aeronaves agrícolas.
Ao mesmo tempo, ajuda a conter a inflação, mas reduz o ritmo da economia e pressiona setores dependentes de financiamento, como o agro, a construção civil e a indústria.
Para o setor aéreo agrícola, juros elevados alongam decisões de investimento, pressionam custos e exigem transparência no repasse de preços. Sem isso, as empresas perdem capacidade de reinvestir em segurança e tecnologia.
Lonax Play – Como as barreiras tarifárias impostas pelos EUA impactam o agrobusiness brasileiro?
Cláudio – Essas barreiras geram excesso de oferta no mercado interno, derrubam preços e reduzem a renda do produtor. No curto prazo, o consumidor se beneficia; no longo, o campo perde fôlego para investir.
O impacto atinge também a aviação agrícola: com margens menores, o produtor posterga contratações e adia a adoção de novas tecnologias.
É um efeito em cadeia — menos exportação, mais pressão sobre preços internos e desaceleração da modernização tecnológica.
Lonax Play – A reação do governo brasileiro foi adequada?
Cláudio – A resposta política foi rápida, mas faltou articulação técnica para proteger setores estratégicos.
Há, no entanto, sinais positivos de diálogo diplomático, com o vice-presidente Alckmin à frente das negociações e a possível abertura de conversas diretas entre Lula e Trump.
O desafio é encontrar convergências em áreas como clima, energia, comércio agrícola e inovação, evitando que diferenças ideológicas virem barreiras comerciais.
Lonax Play –Quais avanços em drones e aviação agrícola você considera mais disruptivos?
Cláudio – A chegada dos aviões autônomos será a grande revolução. Hoje já existem mais de 8 mil drones agrícolas cadastrados na ANAC e 21 mil unidades importadas, principalmente de asa rotativa. Em pesquisa do SINDAG, vimos que o principal concorrente dos drones não é o avião, mas o trator, mais limitado e lento em certas condições. O futuro será de integração entre drones e aeronaves tripuladas, cada qual operando no seu ponto ótimo de eficiência.
Lonax Play – Quais tendências veremos em drones nos próximos cinco anos?
Cláudio – O foco está em baterias de maior autonomia, tanques com maior capacidade e sistemas automáticos de recarga e reabastecimento.
O futuro próximo trará drones autônomos mais robustos, capazes de monitorar e aplicar insumos em tempo real.
A visão de longo prazo é a dos “guardiões da lavoura”: aeronaves que operam quase sem intervenção humana, garantindo eficiência máxima e uso racional de recursos.
Lonax Play – E para os próximos dez anos, qual a sua leitura do agro brasileiro?
Cláudio – O agro seguirá como pilar da segurança alimentar global, com foco em produtividade de baixo impacto ambiental.
Vejo cinco eixos principais:
- Tecnologia – dados, IA e aviação de precisão;
- Bioeconomia – carbono, SAF, coprodutos e uso racional da água;
- Sanidade – conformidade e certificações rigorosas;
- Logística – escoamento multimodal e redução do custo Brasil;
- Financiamento – crédito sofisticado para suavizar ciclos de juros e câmbio.
Os riscos vêm das mudanças climáticas, barreiras regulatórias e volatilidade de crédito. A resposta é integração tecnológica, diplomacia técnica e previsibilidade regulatória. Com inovação, sanidade e financiamento inteligente, o agro brasileiro seguirá crescendo — com mais valor por hectare, mais mercados premium e reputação global de fornecedor confiável.
Da redação Lonax Play.
Lincoln Gomide, Jornalista Responsável.
Com revisão da equipe de Comunicação da Lonax.