Há quem trate os “100 sacos por hectare” como um slogan irreal — uma meta inatingível. Afinal, segundo a Embrapa, a produtividade média de soja no Brasil gira em torno de 60 sacas por hectare.
Ainda assim, há registros de produtores que romperam essa barreira. Em Minas Gerais, um participante de competição atingiu 137 sacas/ha, e o recorde mundial pertence a um americano: 248 sacas/ha.
Mas o verdadeiro “ponto de virada” não está em buscar o “foliar salvador” — a fertilização apenas na folhagem —, e sim em reconstruir o motor do sistema onde ele realmente existe: na física, na química e na biologia do solo.

Essa mudança de prioridade é a espinha dorsal do método ensinado por Matheus Barbasso, agrônomo e CEO da Raiz da Solução, empresa que tem um propósito direto: transformar conhecimento em produtividade em soja.
Os números do programa de educação mostram o alcance: mais de seis mil alunos já passaram pela plataforma (em cursos anuais), cerca de dois mil estão ativos atualmente, e 120 fazendas participam de um programa de mentoria 100% online, com plantões de dúvida semanais e encontros com especialistas.

O objetivo comum é tirar a produção do terreno da aposta climática e levá-la à resiliência agronômica. A tese central é simples: em 80% dos anos há algum grau de déficit hídrico; portanto, sistemas robustos precisam manter eficiência mesmo sob veranicos.
Para isso, a raiz deixa de ser coadjuvante e vira protagonista. A imagem recorrente de Barbasso é simples e poderosa: “a raiz é a boca da planta”. E uma “boca” que alcança mais solo — e mais fundo — “bebe” água e nutrientes quando a superfície já secou.
Casos práticos sustentam o discurso. No Oeste da Bahia, uma lavoura manteve vigor após 27 dias sem chuva, com raízes chegando a quase dois metros de profundidade em solo arenoso. Em Santa Catarina, áreas auditadas superaram 110 sacas/ha, mesmo sob granizo e veranico. Em São Paulo, uma propriedade de 33 hectares ultrapassou a marca de 100 sacas e, de volta à Bahia, uma fazenda “raizeira” fechou 103 sacas de média em 2.800 hectares.
O ponto comum? Diagnóstico e correção da compactação (com subsolagem verdadeira, feita em profundidade e na umidade correta), construção de perfil de solo (com calcário e gesso aplicados na dose e na ordem certas) e diversidade biológica para reduzir fragilidades, inclusive frente a nematoides.

Todo esse arcabouço é sintetizado na metodologia CIPA:
- Construção do solo
- Implantação da lavoura (semente, população, profundidade, plantio)
- Planta equilibrada (fisiologia e nutrição foliar que somam, não substituem)
- Ambiente favorável (cobertura, microclima, biodiversidade).
A ordem importa. Pular etapas custa caro: a “turbina” não salva o motor. Quando o produtor aceita recomeçar pelo começo — medir, corrigir, construir e só então turbinar —, a casa dos 80 sacos vira piso e a dos 100, projeto factível.
Com ciência aplicada, cadência e consistência, a produtividade deixa de ser sorte e vira sistema.
Lonax Play – Em que momento você convence um produtor cético a investir primeiro na física do solo (subsolagem, perfil) antes do “foliar que promete tudo”?
Matheus – Nós convencemos o produtor quando explicamos os fundamentos da alta produtividade. Para chegar aos 100 sacos por hectare, existe uma escada a ser percorrida — e não adianta pular degraus.
Por exemplo: não adianta ter solo compactado e aplicar adubo. A raiz não vai se desenvolver, não vai explorar o perfil e não conseguirá absorver esse adubo. Da mesma forma, a melhor semente do mundo não expressa seu potencial em um ambiente infértil — com pH baixo, falta de cálcio e magnésio e química desequilibrada.
Por isso, é preciso seguir a escada para que a planta cresça, se desenvolva e encha grãos, transformando tudo em produtividade. O foliar funciona, sim — desde que aplicado nas quantidades certas, no momento correto e com produto de qualidade —, mas depois que a base está construída.
Lonax Play – O curso é denso e técnico, com duração média de um ano. Como você quebrou o paradigma do “não tenho tempo”?
Matheus – De fato, nosso curso é denso: tem muito conteúdo e vamos fundo — chegamos até a fisiologia vegetal, explicando como a célula funciona, por que aplicar cobre e molibdênio, como esses nutrientes atuam e em que momento fazem diferença.
Fazemos isso porque temos clareza de uma coisa: produtor e agrônomo só dão a devida importância a um manejo quando entendem o “porquê”. Quando o funcionamento é compreendido, as decisões passam a ser técnicas, conscientes e oportunas.
A partir desse entendimento, o produtor ganha autonomia: deixa de depender de consultores, revendas ou terceiros para decidir no dia a dia. E como o campo é dinâmico, as decisões precisam ser imediatas.
É por isso que o conteúdo é profundo — para gerar entendimento real e resultado no campo. Nós explicamos isso antes de vender, e assim quebramos o paradigma do “não tenho tempo”.
Lonax Play – Para quem mira 100 sacas/ha, quais métricas de processo você monitora além da produtividade?
Matheus – A primeira etapa é analisar os dados de solo: verifico a compactação (se há, quanto e em qual profundidade) com o penetrômetro, e a fertilidade por meio da análise química, usando agricultura de precisão.
Entre os pontos mais críticos está a qualidade do plantio. Avalio o manejo da palhada — que deve existir, mas sem prejudicar a semeadura —, a qualidade da semente, a genética mais adaptada à região e a população ideal de plantas.
Na prática, a produtividade resulta da multiplicação entre população de plantas, número de nós, vagens por nó, grãos por vagem e peso de mil grãos.
Essas são as métricas que acompanho ao longo do ciclo para saber se estamos, de fato, no caminho dos 100 sacos por hectare.
Da redação Lonax Play.
Lincoln Gomide, Jornalista Responsável.
Com revisão da equipe de Comunicação da Lonax.
