Gestão e qualidade: caminhos da pecuária leiteira 

Quase todos os municípios brasileiros (98%) possuem produção de leite. Segundo o Ministério da Agricultura, a produção nacional deve alcançar 34 bilhões de litros este ano, movimentando cerca de R$ 70 bilhões

Para participar desse ecossistema, é preciso compreender que administrar uma fazenda leiteira vai muito além da lida diária com os animais: exige planejamento, estratégia e formação de novas lideranças

Fonte: Envato

Qualidade do leite e gestão de pessoas

A qualidade do leite está diretamente ligada à rentabilidade do produtor. Mais do que atender a requisitos legais, investir em qualidade significa cuidar da saúde do rebanho, garantir higiene na ordenha e capacitar continuamente a equipe. 

O controle rigoroso do uso de antibióticos, a atenção à contagem bacteriana e a prevenção da mastite não apenas reduzem prejuízos, mas também fortalecem a credibilidade do produto no mercado. 

Nesse contexto, o comportamento humano é determinante. Uma equipe bem treinada não apenas executa tarefas de forma correta, mas entende como cada ação impacta indicadores como CCS (Contagem de Células Somáticas) e CPP (Contagem Padrão em Placas)

O impacto da sucessão familiar no leite

De acordo com Luiz Felipe, zootécnico e especialista em produção leiteira, sócio-consultor da Consultoria Rurale, a sucessão não deve ser tratada como um momento isolado, mas sim como um processo gradual

Fonte: Arquivo Pessoal

“Trata-se de preparar pessoas, transmitir conhecimentos e distribuir responsabilidades de forma planejada. Assim, evita-se rupturas e assegura-se que o empreendimento permaneça alinhado aos valores da família, ao mesmo tempo em que adota uma gestão mais profissionalizada.” 

Nesse processo, o papel dos jovens é essencial. Atrair, engajar e capacitar novas gerações vai além da herança: requer oportunidades de aprendizado, participação efetiva nas decisões e clareza quanto a objetivos e desafios. Quando esse preparo não ocorre, abre-se espaço para conflitos familiares e decisões impulsivas que podem comprometer anos de dedicação e investimento. 

Gestão empresarial e inovação 

Ao lado da sucessão, a visão empresarial torna-se indispensável. Enxergar a fazenda como uma empresa significa estruturar setores, definir líderes, organizar fluxos de trabalho e consolidar uma cultura organizacional. 

A inovação é parte inseparável dessa mentalidade. Incorporar tecnologias, aplicar boas práticas de manejo e investir em processos de gestão eleva a produtividade e reduz desperdícios. No entanto, a inovação só gera resultados consistentes quando vem acompanhada de planejamento, monitoramento e equipes capacitadas

Quando sucessão, gestão empresarial e qualidade caminham juntas, o produtor estabelece as bases de um negócio sustentável e competitivo. Mais do que enfrentar os desafios atuais, prepara sua fazenda para prosperar no futuro, garantindo resultados consistentes e uma equipe comprometida com a excelência. 

Lonax Play – Por que o senhor afirma que sucessão familiar é processo e não evento? 
 
Luiz – A sucessão familiar não acontece de forma repentina, em um único dia ou por uma simples decisão. Ela envolve etapas contínuas de preparação, transferência de conhecimento, definição de responsabilidades e amadurecimento das pessoas que irão assumir o negócio. 

Quando tratada como evento, tende a gerar rupturas, conflitos e prejuízos. Já como processo, possibilita uma transição gradual, organizada e alinhada aos valores da família e às necessidades de profissionalização da fazenda. Assim, os herdeiros assumem com mais consciência e segurança, garantindo a continuidade e a sustentabilidade no longo prazo. 

Lonax Play – Como engajar jovens para que permaneçam e assumam papéis de liderança no campo? 
 
Luiz – Engajar os jovens exige muito mais do que transferir uma propriedade por herança. É necessário criar um ambiente de aprendizado e participação real nas decisões, no qual eles se sintam parte do negócio e percebam que sua opinião tem peso. O jovem busca propósito, reconhecimento e oportunidade de crescimento. 

Oferecer capacitação, esclarecer desafios e metas da fazenda e abrir espaço para novas ideias e tecnologias são estratégias fundamentais. Também é essencial equilibrar tradição e inovação: valorizar os valores familiares, mas permitir que tragam sua visão moderna e empreendedora. Quando o campo se apresenta como espaço de realização pessoal e profissional, os jovens se motivam a permanecer e a liderar, garantindo continuidade e evolução da atividade. 

Lonax Play – De que forma a gestão empresarial muda os resultados de uma fazenda leiteira? 
 
Luiz – A gestão transforma a propriedade em uma empresa de fato, com metas claras, processos definidos e pessoas engajadas. Sem essa visão, decisões costumam ser reativas e imediatistas. Já com gestão estruturada, cada setor — produção, manejo, nutrição, manutenção, gestão de pessoas e finanças — é organizado, monitorado e avaliado, trazendo clareza sobre custos, produtividade e qualidade. 

Na prática, a gestão empresarial reduz desperdícios, aumenta a eficiência, melhora a qualidade do leite, engaja a equipe e garante rentabilidade e sustentabilidade no longo prazo. A fazenda deixa de depender apenas do esforço diário e passa a ter estratégias sólidas para crescer de forma contínua e competitiva. 

Lonax Play – Qual é o papel da inovação nesse modelo de gestão? 
 
Luiz – A inovação é estratégica porque garante evolução e competitividade. Mais do que adotar novas tecnologias, trata-se de construir uma cultura aberta a mudanças, sempre buscando formas mais simples, rápidas e eficientes de produzir. 

Isso inclui desde a introdução de equipamentos modernos e softwares de monitoramento até boas práticas de manejo, gestão de processos e capacitação da equipe. Quando bem aplicada, a inovação aumenta a produtividade, reduz desperdícios, melhora a qualidade do leite e fortalece a sustentabilidade do negócio. 

Mas é importante destacar: tecnologia sozinha não transforma a fazenda. O verdadeiro impacto vem da combinação entre inovação, gestão e equipe capacitada. 

Lonax Play – Por que a qualidade do leite também é uma questão de gestão de pessoas?

Luiz – Porque, no fim das contas, são os colaboradores que executam cada detalhe do manejo que garante — ou compromete — o resultado. 

Ordenha higiênica, controle de antibióticos, limpeza correta dos equipamentos, cuidado com a saúde dos animais e cumprimento das rotinas dependem diretamente do comprometimento da equipe. 

Mesmo com equipamentos modernos e protocolos bem elaborados, sem pessoas capacitadas e motivadas a qualidade será prejudicada. Quando cada colaborador entende que suas atitudes impactam os índices de CCS e CPP, a qualidade deixa de ser apenas uma exigência técnica e se torna um valor compartilhado por toda a equipe. 

Da redação Lonax Play.
Lincoln Gomide, Jornalista Responsável.
Com revisão da equipe de Comunicação da Lonax.

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