Como a IoT estáprotegendo vidas na indústria Part 1

O Brasil ainda registra um acidente de trabalho a cada 48 segundos e uma morte a cada 3 horas e 47 minutos, segundo dados do Ministério do Trabalho. Diante desse cenário alarmante, empresas inovadoras têm buscado reverter essa realidade por meio da tecnologia.

Uma dessas empresas é a A4 Solutions, liderada pela paulistana Ana Flávia Rodrigues, também CEO da Alert.

Especialista em segurança eletrônica industrial, Ana Flávia é uma das vozes mais atuantes na aplicação da Internet das Coisas (IoT) e da inteligência artificial para prevenir acidentes e salvar vidas em ambientes de alto risco, como mineração, siderurgia, petróleo e construção civil.

Fonte: Arquivo Pessoal Ana Flavia

Sua trajetória e sua visão sobre o uso da tecnologia com propósito são o ponto de partida para compreender como a inovação pode proteger o bem mais valioso de uma empresa: as pessoas.

A história da A4 Solutions começa em 2019, quando Ana Flávia participou de uma imersão no Vale do Silício. Foi lá que ela percebeu a lacuna entre as soluções tecnológicas de segurança disponíveis no mercado internacional e a realidade das empresas brasileiras. As alternativas importadas eram caras e inacessíveis para a maioria, enquanto o mercado nacional ainda engatinhava.

Com base em sua ampla experiência no setor de segurança, Ana fundou a A4 Solutions com uma missão clara: salvar vidas por meio de soluções tecnológicas acessíveis e eficazes. A empresa se especializou em desenvolver sistemas inteligentes que monitoram riscos, evitam colisões, automatizam respostas e fortalecem a cultura de segurança nas operações industriais.



O Lonax Play conversou com Ana Flávia e, devido à riqueza do conteúdo, dividimos a entrevista em dois artigos.

Acompanhe a primeira parte dessa conversa com a CEO da Alert e da A4 Solutions:

Lonax Play – Como você enxerga o papel da IoT na transformação da segurança industrial brasileira?

Flávia – Do meu ponto de vista, as indústrias que atuam em cenários de maior hostilidade ou complexidade operacional –
como siderurgia e mineração – são as que mais têm se beneficiado até agora. Esses setores, por sua própria natureza,
apresentam riscos elevados e grande potencial de danos, tanto para o meio ambiente quanto para as pessoas.

Em ambientes assim, a IoT oferece ferramentas que vão muito além da prevenção inicial; ela permite uma gestão de segurança proativa, usando dados em tempo real para identificar e evitar ameaças.

Tragédias como a de Brumadinho são lembretes dolorosos de como uma gestão de segurança inadequada ou pouco
equipada pode ter consequências catastróficas. Nesse caso, além da negligência em relação às barragens, houve falhas na rastreabilidade dos trabalhadores e na identificação do número de pessoas presentes no local.

Isso atrasou as buscas e dificultou o apoio às famílias, que viveram a angústia de não saber o paradeiro de seus entes
queridos.

Outro exemplo é a explosão do gasômetro na planta da Usiminas, em Ipatinga, em 2018, que deixou 34 feridos.
Naquele momento crítico, se existisse uma ferramenta precisa para contabilizar quem estava na área do impacto, o acionamento do resgate teria sido mais rápido e eficaz. Em casos assim, o tempo de resposta pode ser a diferença entre a
vida e a morte.

Cenários como esses mostram que a IoT não é apenas um elemento de modernização: ela é uma necessidade para indústrias que desejam operar de forma segura, sustentável e com respeito à vida humana.

Portanto, a IoT não é um “luxo tecnológico”. Hoje, ela é uma aliada essencial para transformar a segurança industrial e garantir que trabalhadores possam exercer suas funções em ambientes cada vez mais protegidos, com menos impactos humanos e ambientais.

Lonax Play – Quais foram os principais desafios para tornar a tecnologia da A4 Solutions acessível ao mercado nacional?

Flávia – A A4 praticamente nasceu durante a pandemia. Não tínhamos nem um ano de existência quando começamos a
desenvolver o Smart Safety. Nosso maior desafio foi a escassez global de componentes eletrônicos naquele período.

As referências internacionais semelhantes eram muito caras para o mercado brasileiro, e nosso objetivo era desenvolver um
hardware próprio, que nos permitisse dominar a tecnologia de ponta a ponta e adaptá-la a diferentes cenários. Hoje, isso é
um dos nossos maiores diferenciais competitivos.

Muitos dos nossos concorrentes terceirizaram a fabricação de seu hardware e firmware, o que dificulta ajustes para cenários mais complexos — como plantas com alto grau de interferência eletromagnética, que podem comprometer a precisão dos sensores. E essa precisão é crucial, pois o sistema precisa parar a máquina no primeiro sinal de perigo.

Por termos desenvolvido o hardware internamente, conseguimos adaptar nossas soluções a diferentes casos de uso e superar desafios que muitos consideravam inviáveis. Foi uma jornada árdua, mas cada obstáculo foi essencial para atingirmos o nível de excelência que entregamos hoje aos nossos clientes.

Lonax Play – A cultura de segurança ainda é um tabu em muitas empresas. Muitos empresários a veem como um custo desnecessário. Como sensibilizar gestores e lideranças para essa causa?

Flávia – A cultura de segurança varia bastante entre os setores industriais. Em empresas de alto risco, como as de mineração e siderurgia, há uma fiscalização mais rigorosa, o que leva a uma maior conscientização e investimento em segurança.
Por outro lado, em muitos outros setores, a segurança ainda é vista como um custo elevado, e a produtividade é frequentemente priorizada, mesmo que de forma velada.

Para sensibilizar gestores e lideranças, é preciso promover uma mudança de mindset, mostrando que segurança não é uma obrigação legal ou um gasto, mas um ativo estratégico. Acidentes afetam não apenas os colaboradores — eles impactam a reputação da empresa, geram custos operacionais e reduzem a confiança de investidores, clientes e demais stakeholders.

Vejo um movimento crescente de lideranças que querem inovar e trazer mais segurança para suas operações. Estamos cada vez mais presentes em comunidades de gestores de segurança do trabalho, onde compartilhamos experiências e promovemos debates relevantes.

Uma das estratégias que utilizamos é a demonstração prática: viabilizamos testes em campo para que as lideranças possam ver de perto como nossas soluções funcionam. Isso ajuda a transformar a percepção — quando eles veem que a tecnologia salva vidas e melhora a eficiência operacional, a resistência dá lugar ao engajamento.

Quando gestores compreendem que investir em segurança é investir em um futuro sustentável, essa decisão deixa de ser vista como um peso e passa a ser encarada como um compromisso inegociável.

Da redação Lonax Play.
Lincoln Gomide, Jornalista Responsável.
Com revisão da equipe de Comunicação da Lonax.

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