Estudante de 21 anos, cursando o terceiro ano de Engenharia de Controle e Automação na UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná — instituição federal presente em treze cidades do estado, inspirada no modelo politécnico europeu), Giovana Brizzi, terceira geração de uma família de produtores rurais, sempre soube que a produção agrícola não termina na colheita.
Ao conviver com familiares e amigos produtores em suas fazendas, percebeu que havia preocupações comuns: perdas no armazenamento, insegurança no uso do silo bolsa, excesso de umidade e, sobretudo, a dificuldade em detectar problemas a tempo.
Essa vivência direta marcou sua trajetória e plantou a semente de uma ideia transformadora: desenvolver uma solução capaz de monitorar grãos armazenados em silos bolsa com precisão e segurança.
O silo bolsa sempre foi um recurso prático e de baixo custo, especialmente para propriedades médias e grandes cooperativas. No entanto, sua vulnerabilidade e a falta de monitoramento geravam insegurança entre os produtores. Esse desafio recorrente, vivido por sua família e tantas outras, motivou Giovana a levar a realidade do campo para a sala de aula da UTFPR, em Curitiba.
Foi ali que encontrou a base técnica que faltava: disciplinas de eletrônica, sistemas microcontrolados, sinais e controle ofereceram o alicerce para transformar experiência em inovação.
Do campo para a Universidade nasce a solução
Dessa combinação surgiu a Brassilo, startup dedicada a desenvolver tecnologias de monitoramento para silos bolsa.
O projeto ganhou impulso dentro do ecossistema de inovação do Paraná, o Vale do Pinhão, ambiente que fomenta negócios inovadores. A participação em programas de incubação e iniciativas como o Highlanders, apoiado pelo SEBRAE, trouxe mentorias, validação de mercado e networking.
A visibilidade culminou em reconhecimento público: a Brassilo conquistou o 2º lugar no Prêmio Empreendedora Curitibana 2024, validando seu potencial diante de especialistas e do setor empresarial.
Esse avanço acontece em um momento crítico. O Brasil, líder mundial em produção de grãos, enfrenta um déficit de armazenagem superior a 100 milhões de toneladas.
O caos logístico que o silo bolsa evita
Com safras recordes em estados como Mato Grosso, Paraná e Goiás, muitos produtores são obrigados a vender parte da colheita imediatamente após a safra — quando os preços são mais baixos — ou a recorrer a estruturas improvisadas, que comprometem a qualidade.
Caminhões em longas filas nas cooperativas, atrasos na colheita e custos logísticos elevados são cenas cada vez mais comuns.
Esse gargalo ameaça a competitividade brasileira no mercado internacional, onde certificações d-e qualidade e capacidade de estocagem estratégica são exigências crescentes.
A crítica recorrente é que o país investiu pesadamente em produtividade no campo, mas negligenciou a expansão da infraestrutura de armazenagem.
É nesse espaço que a Brassilo se insere como solução: transformar o silo bolsa em uma estrutura segura, monitorada e confiável, reduzindo perdas e agregando valor à produção.
Giovana Brizzi, a jovem estudante curitibana, mostra que a inovação nasce quando se olha para um problema real com as ferramentas certas — unindo vivência rural e conhecimento em automação.
Lonax Play – Como a sua vivência no campo e a influência de seus pais e avós a inspiraram na criação da Brassilo?
Giovana – Minha vivência no campo sempre esteve no centro da minha trajetória. Cresci em uma família com propriedade agrícola em Rio Verde (GO) e acompanhei de perto os desafios diários do produtor rural. Desde cedo, vi como os silos bolsa eram uma alternativa acessível para armazenagem, mas também como apresentavam riscos consideráveis de perdas e problemas logísticos. Essa convivência, somada à influência dos meus pais e avós, que sempre valorizaram a inovação no campo, despertou em mim a vontade de buscar uma solução prática, acessível e eficiente para o armazenamento de grãos.
Lonax Play – Qual foi o maior desafio na validação da ideia dentro do ecossistema de inovação de Curitiba?
Giovana – O maior desafio foi traduzir um problema muito técnico do campo em uma linguagem compreensível para diferentes atores do ecossistema de inovação, como investidores, mentores e instituições parceiras. O Vale do Pinhão e os programas do Sebrae ofereceram suporte fundamental nesse processo, mas foi necessário mostrar não apenas o potencial tecnológico da solução, mas também seu impacto econômico, logístico e social para o agro brasileiro.
Lonax Play – Como você vê a Brassilo ajudando os produtores a superarem o déficit de armazenagem no Brasil?
Giovana – O Brasil enfrenta um déficit superior a 100 milhões de toneladas em capacidade de armazenagem, o que obriga muitos produtores a venderem no pior momento de preço ou até a expor sua produção ao céu aberto. Além disso, existe a questão da acessibilidade: nem todos podem investir em estruturas tradicionais, que exigem valores altos e inviáveis para pequenas e médias propriedades.
Quando trazemos uma solução tecnológica como a da Brassilo, tiramos esse peso das costas do agricultor, permitindo armazenar com segurança a um custo muito mais baixo. Isso muda o mercado de forma significativa, pois impacta diretamente o momento da venda dos grãos, permitindo negociações mais vantajosas e fortalecendo o setor como um todo.
Para quem já utiliza o silo bolsa, a Brassilo oferece uma gestão muito mais eficiente, eliminando a necessidade de deslocar funcionários diariamente apenas para verificar condições de armazenagem.
Na minha própria experiência familiar, era comum três funcionários dedicarem horas do dia para inspecionar os silos bolsa – um trabalho custoso e demorado que pode ser totalmente otimizado com tecnologia.
Lonax Play – Qual foi o significado do reconhecimento no Prêmio Empreendedora Curitibana para sua trajetória?
Giovana – Foi uma conquista marcante, não apenas pelo reconhecimento do projeto, mas também pela oportunidade de mostrar que inovação no agro pode vir de jovens empreendedores com visão tecnológica. Ser a mais jovem premiada em 2024 reforça minha responsabilidade de continuar desenvolvendo soluções relevantes para o setor e fortalece a credibilidade da Brassilo diante de parceiros e investidores. Além disso, mesmo com o crescimento das AgTechs no Brasil, ainda há um espaço enorme para novas soluções, considerando o tamanho e a importância do agro para o país. Conheço ecossistemas de inovação que contam apenas com uma ou duas startups nessa área, quando poderíamos ter muito mais. Por isso, fico feliz em poder empreender justamente nesse segmento, contribuindo para que o setor receba ainda mais atenção e tecnologia nos próximos anos.
Da redação Lonax Play.
Lincoln Gomide, Jornalista Responsável.
Com revisão da equipe de Comunicação da Lonax.