Mestre em Administração de Empresas, Estratégia e Inovação pela prestigiada Fundação Dom Cabral com a dissertação “Governança Colaborativa no Contexto do Blockchain – o Desafio não é a Tecnologia, é a Rede”, Marcus Lindgren é referência e autoridade quando o assunto é ESG.

Marcus cedeu parte do seu precioso tempo para conversar com a redação Lonax Play sobre todo o ecossistema por trás de ações concretas de ESG, suas implicações, desafios e benefícios para as empresas que têm foco na perenidade de seus negócios e na transformação constante em direção à excelência e o crescimento sustentáveis.
O resultado ficou tão valioso e rico que dividimos a entrevista em duas partes. Fique com a leitura da primeira e não perca a continuação !
ESG além do plano estratégico

No cenário empresarial contemporâneo, a sigla ESG (Environmental, Social and Governance – Ambiental, Social e Governança) passou a ocupar um espaço central nas discussões estratégicas. Mais do que um modismo, trata-se de uma mudança de paradigma sobre o papel das empresas no mundo.
Para o professor, consultor e palestrante Marcus Lindgren, da Fundação Dom Cabral, a integração verdadeira do ESG é uma exigência da prosperidade no longo prazo. E ela começa não em projetos isolados, mas na cultura corporativa.
“ESG tem a ver com comportamento, modelo mental, cultura”, afirma Lindgren. Citando Peter Drucker, ele lembra que “a cultura come a estratégia no café da manhã”, o que sinaliza a urgência de enxergar o ESG não como um apêndice da estratégia, mas como um princípio que deve permear toda a operação da empresa.
Segundo ele, prosperidade e sustentabilidade só serão atingidas se as decisões forem tomadas considerando o impacto sobre todos os stakeholders – e não apenas os acionistas. Isso exige uma postura empresarial que reconheça seus riscos e responsabilidades em toda a cadeia de valor, atuando de forma harmônica com clientes, colaboradores, fornecedores, comunidade e meio ambiente.
O desafio do curto prazo

A cultura do imediatismo é um obstáculo para a consolidação de práticas ESG no Brasil. “Pensar na perenização, na longevidade, na sustentabilidade do negócio tem a ver com o longo prazo. E o brasileiro tende a ser muito imediatista em suas decisões”, explica Lindgren.
Essa mentalidade leva à falsa impressão de que ações sustentáveis são contrárias aos interesses econômicos. Para romper esse ciclo, é necessário adotar uma visão mais ampla de risco e retorno, que vá além dos relatórios trimestrais e dos lucros imediatos. “É preciso saber conciliar os resultados de curto prazo com os riscos do negócio no futuro”, destaca.
Governança: a porta de entrada
Para Lindgren, não há ESG eficaz sem uma governança corporativa sólida. “Sempre faço uma provocação: ESG, comece pelo G!”, diz. Isso porque uma empresa que não possui estrutura de governança dificilmente conseguirá implantar e sustentar práticas sociais e ambientais relevantes.
A boa governança ajuda a empresa a pensar o presente e o futuro simultaneamente. Ao harmonizar os objetivos de curto prazo com a mitigação de riscos de longo prazo, ela cria um ambiente favorável à sustentabilidade real. “Comportamentos não éticos e não sustentáveis hoje vão expor a empresa a riscos que cobrarão um preço no futuro”, alerta.
Estratégias práticas de governança
A construção de uma governança eficaz deve considerar o momento, o porte e a complexidade de cada empresa. “Não faz sentido tentar implementar as melhores práticas de grandes corporações em empresas pequenas ou em início de jornada. Isso seria muito caro e frustrante”, explica o professor.
Um bom ponto de partida é institucionalizar ritos regulares de avaliação do plano estratégico e da gestão de riscos. Esses momentos de análise forçam a organização a olhar além dos indicadores tradicionais, promovendo uma reflexão mais profunda sobre seus rumos e decisões.
Planejamento financeiro com visão de futuro

Outro ponto crítico é o alinhamento entre ESG e finanças. “Precisamos perguntar: planejamento financeiro para qual horizonte de tempo?”, provoca Lindgren. Se estivermos falando de poucos meses, a integração com ESG será sempre limitada. Isso porque as práticas sustentáveis geralmente geram retorno no médio e longo prazo.
O erro comum, segundo ele, é julgar as iniciativas ESG apenas pelos seus impactos imediatos no lucro líquido ou EBITDA. Isso é como plantar hoje e exigir colheita amanhã. “As práticas ESG devem ser vistas como investimento, como fazemos com tecnologia e inovação. Se não aumentarem a competitividade futura, aí sim será jogar dinheiro fora”, diz.
Mensuração com base no tempo e risco
Do ponto de vista financeiro, uma das principais falhas das empresas brasileiras é ignorar os riscos de longo prazo em seus cálculos. “Foca-se em indicadores como lucro líquido, posição de caixa e EBITDA, sem contabilizar os riscos que podem impactar esses números no futuro”, explica.
Para ele, estender o horizonte de análise para três ou quatro anos – ou mais – é fundamental para tomar decisões mais responsáveis. “Com isso, conseguimos trazer os riscos futuros a valor presente, ajustando nossa avaliação de desempenho de maneira mais realista.”
A mudança começa no topo
A implementação efetiva de políticas ESG e de governança exige uma transformação cultural genuína – e isso começa pela liderança. “Não funciona ficar só no discurso”, afirma Lindgren. A alta direção precisa estar pessoalmente envolvida e comprometida com a transformação.
O papel da gestão de mudanças nesse processo é crucial. A evolução cultural deve ser planejada, gradual, com apoio de metodologias e acompanhamento. Mas o principal motor será sempre o exemplo dado pelos líderes. “Essas mudanças são feitas pelo exemplo e não pela verbalização de ideias”, sentencia.

Da redação Lonax Play.
Lincoln Gomide, Jornalista Responsável.
Com revisão da equipe de Comunicação da Lonax.