Preservar a fertilidade da terra e, ao mesmo tempo, ampliar a produtividade agrícola é um dos grandes desafios do campo — hoje e sempre.
A nova realidade climática, marcada por fenômenos extremos, exige que o produtor rural adote um manejo integrado que combine conservação, tecnologia e conhecimento local.
“Sem um solo vivo, não há sistema produtivo sustentável”, resume o pesquisador da Embrapa Solos, João Batista Silva, que coordena pesquisas sobre sequestro de carbono em áreas agrícolas.
Segundo ele, práticas como rotação de culturas, adubação verde e plantio direto podem reduzir em até 30% a emissão de gases de efeito estufa e melhorar a eficiência no uso da água. A adoção desses métodos, além de proteger o ambiente, garante estabilidade produtiva mesmo em safras irregulares — fator crucial para pequenos e médios produtores, especialmente em regiões suscetíveis à seca.

Rotacionar é preciso
A rotação de culturas é o primeiro pilar da boa gestão do solo. Alternar espécies com diferentes sistemas radiculares e exigências nutricionais — como milho, soja e feijão — quebra ciclos de pragas e doenças, reduz a necessidade de herbicidas e equilibra o perfil de nutrientes no solo.
Na Fazenda Horizonte Verde, em Uberaba (MG), a produtora Maria das Graças Ferreira substituiu o esquema soja–milho por um ciclo de quatro culturas que inclui a braquiária para cobertura. “Em dois anos, a matéria orgânica subiu de 2% para 3,2%, e nossa produtividade de soja aumentou em 12 sacas por hectare”, comemora.
O caso de Maria reforça dados do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), que apontam um ganho médio de 8% na rentabilidade quando a rotação é planejada com acompanhamento técnico.
Terraceamento conserva nutrientes
Além da rotação, o terraceamento mantém sua relevância histórica, agora aliado a tecnologias digitais. Os sulcos em nível reduzem a velocidade da água da chuva, evitam a perda de sedimentos e aumentam a infiltração.
Hoje, aplicativos de topografia em smartphones e drones com sensores permitem projetar curvas de nível com precisão centimétrica, barateando um processo que antes exigia equipamentos caros.
Para o engenheiro agrônomo Daniel Fonseca, consultor da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG), a tecnologia recoloca o terraceamento no centro da discussão: “Com drones e modelos digitais de terreno, conseguimos desenhar microbacias dentro da lavoura, evitando enxurradas que podem arrastar até 25 toneladas de solo por hectare em um único evento de chuva forte”.
Plantio direto: como funciona
O plantio direto, quando bem manejado, complementa as práticas de conservação. Ao manter a palhada sobre a superfície, o sistema protege contra o impacto das gotas de chuva, regula a temperatura do solo e favorece a atividade biológica.
De acordo com a Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (FBSPD), cerca de 35 milhões de hectares no país já utilizam a técnica, mas o potencial chega a 50 milhões.
Na visão de Ana Paula Rezende, coordenadora de Sustentabilidade do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), o plantio direto será pré-requisito para acesso a linhas de crédito verde a partir de 2026. “O produtor que comprovar a adoção de práticas conservacionistas terá juros menores; é a economia reconhecendo o valor do serviço ambiental”, afirma.

Fonte: Envato
Análise periódica do solo
O avanço de laboratórios móveis permite obter resultados em até 24 horas, facilitando ajustes imediatos de calagem e adubação.
É essencial avaliar diferentes camadas do perfil do solo para evitar a chamada compactação subsuperficial, que limita o crescimento das raízes e agrava a perda de água por escoamento superficial.
O produtor Carlos Nascimento, de Cascavel (PR), investiu em sondas de resistência à penetração acopladas a tratores: “Mapeamos manchas de compactação e aplicamos subsolagem apenas onde é necessário, economizando diesel e tempo de máquina”.
A iniciativa reduziu em 18% o consumo de combustível nas operações de preparo do solo, além de aumentar a uniformidade da lavoura.

Práticas integradas: diversificação gera receita
Os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) surgem como estratégia para diversificar a renda e melhorar a estrutura física do solo. A presença de árvores oferece sombra ao gado, reduz a amplitude térmica e favorece a ciclagem de nutrientes por meio das raízes profundas.
Pesquisa da Universidade Federal de Viçosa indicou que áreas com ILPF acumulam 0,6 tonelada de carbono por hectare a mais do que áreas convencionais, contribuindo para as metas de descarbonização do agronegócio brasileiro.
Para o secretário adjunto de Meio Ambiente do Mato Grosso, Luiz Fernando Garcia, esses sistemas têm papel central nos compromissos climáticos do estado: “Precisamos conciliar produção e conservação; o ILPF faz isso com ganhos econômicos palpáveis”.
Legislação e gestão eficiente
A gestão do solo também está ligada à legislação ambiental. A recém-flexibilizada Lei Geral do Licenciamento Ambiental (Lei nº 14.950/2023) manteve regras específicas para o manejo de áreas suscetíveis à erosão.
Produtores que adotam práticas recomendadas podem se enquadrar no licenciamento por adesão e compromisso, um processo simplificado que reduz prazos. No entanto, como pondera o advogado ambientalista Ricardo Teixeira, sócio do escritório Terra Viva, “a discussão judicial sobre a lei continua, e o produtor precisa guardar registros de boas práticas — como mapas de rotação e laudos de análise de solo — para demonstrar diligência em eventuais fiscalizações”. Na prática, registros precisos e uso de tecnologias de georreferenciamento funcionam como uma blindagem eficaz contra multas e embargos.
Em síntese, o futuro da produtividade agrícola passa pela saúde do solo. Técnicas clássicas, reforçadas por inovação digital e apoio de políticas públicas, formam uma agenda de curto e longo prazo que beneficia não apenas o produtor, mas toda a sociedade.
Ao adotar práticas conservacionistas, o agricultor não está apenas cuidando da sua terra: está investindo no patrimônio ambiental do país.
Como resume o produtor André Ribeiro, de Unaí: “Cuidar do solo é garantir que nossos filhos tenham onde plantar e colher”.
Com conhecimento, tecnologia e vontade de inovar, a gestão eficiente do solo deixa de ser custo e passa a ser um dos melhores investimentos da fazenda.

Da redação Lonax Play.
Lincoln Gomide, Jornalista Responsável.
Com revisão da equipe de Comunicação da Lonax.